Os transtornos de personalidade são padrões de comportamento e experiências interiores que se desviam das normas da cultura à qual a pessoa pertence. Esses padrões são inflexíveis e incontornáveis, começam na adolescência ou no início da idade adulta, e podem causar sofrimento ou graves danos na vida cotidiana de uma pessoa. Os pesquisadores ainda não têm certeza do que causa os transtornos de personalidade. Enquanto alguns acreditam que esses transtornos são em consequência da genética, outros acreditam que a raiz dos transtornos de personalidade pode ser encontrada nas primeiras experiências de vida que impedem o desenvolvimento de padrões normais de comportamento e pensamento.
DIAGNÓSTICO DE UM TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
Os psicólogos diagnosticam os transtornos de personalidade com base em critérios estabelecidos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders — DSM-IV). Os sintomas que um indivíduo deve exibir são os seguintes:
- Os padrões de comportamento devem afetar diferentes partes da vida de uma pessoa, incluindo, mas não limitado a, relacionamentos, trabalho e vida social;
- Os padrões de comportamento devem ser de longa duração e predominantes;
- Os sintomas devem afetar dois ou mais dos seguintes: sentimentos, pensamentos, capacidade de controlar impulsos e relacionamento com outras pessoas;
- O padrão de comportamento deve começar na adolescência ou no início da idade adulta;
- O padrão de comportamento deve ser imutável ao longo do tempo;
- Esses sintomas não podem resultar de outras condições médicas ou doenças mentais, ou do uso de drogas;
OS DIFERENTES TIPOS DE TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE
Existem dez tipos diferentes de transtorno de personalidade, que podem ser classificados
em três agrupamentos distintos com base em características semelhantes.
Agrupamento A
Os transtornos de personalidade nesse agrupamento são representados por comportamento excêntrico e estranho. Nesse agrupamento estão incluídos:
1. Transtorno de personalidade paranoide: este transtorno de personalidade é caracterizado por sintomas que lembram a esquizofrenia e ocorre em 2% da população adulta nos Estados Unidos. Os sintomas incluem suspeita e desconfiança contínua de outras pessoas; sentir-se como se estivesse sendo explorado, enganado ou que alguém estivesse mentindo para você; tentar encontrar significados ocultos em coisas como conversas e gestos de mão; sentir como se parceiros, familiares e amigos fossem desleais ou não confiáveis; e ter explosões de raiva em função de se sentir enganado. As pessoas que sofrem de transtorno de personalidade paranoide muitas vezes parecem sérias, ciumentas, reservadas e frias.
2. Transtorno de personalidade esquisoide: este é um tipo um pouco raro de transtorno de personalidade; portanto, desconhece-se o porcentual da população afetada por ele, mas entende-se que os homens são mais afetados do que as mulheres. Os sintomas do transtorno de personalidade esquisoide incluem pouco ou nenhum desejo de ter quaisquer relacionamentos íntimos com outras pessoas, participar raramente e atividades divertidas ou prazerosas, ficar isolado dos outros e ser indiferente a rejeição, críticas, afirmação ou elogios. As pessoas que sofrem de transtorno de personalidade esquizoide geralmente parecem arredias, indiferentes e frias.
3. Transtorno de personalidade esquisotípica: este tipo de transtorno de personalidade afeta cerca de 3% da população adulta nos Estados Unidos. Os sintomas de transtorno de personalidade esquizotípica incluem: ter opiniões, comportamento e pensamentos excêntricos; enfrentar dificuldades quando se trata de ter relacionamentos; ter uma forma grave de ansiedade social que não desaparece, independentemente das circunstâncias; ter uma crença na própria capacidade de ler mentes, ou de ver o futuro; ter reações inadequadas, ignorando outras pessoas; e falar sozinho. As pessoas que sofrem de transtorno de personalidade esquizotípica correm mais risco de desenvolver transtornos
psicóticos e depressão.
Agrupamento B
Os transtornos de personalidade nesse agrupamento são caracterizados por comportamento errático e dramático. Nesse agrupamento estão incluídos:
1. Transtorno de personalidade antissocial: este tipo de transtorno de personalidade é encontrado com mais frequência em homens (3%) do que em mulheres (1%). Os sintomas de transtorno de personalidade antissocial incluem: ter total indiferença pela segurança de outras pessoas e de si mesmo; enganar, ser impulsivo e ser muito agressivo e irritável (e, em consequência, sempre se meter em brigas); ser apático em relação aos outros; e não estar de acordo com as normas que foram estabelecidas pela sociedade. Consequentemente, as pessoas com transtorno de personalidade antissocial estão frequentemente em apuros com a lei.
2. Transtorno de personalidade limítrofe: este tipo de transtorno de personalidade afeta aproximadamente de 1% a 2% da população adulta nos Estados Unidos e é encontrado com mais frequência em homens do que em mulheres. Os sintomas do transtorno de personalidade limítrofe incluem: sofrer de ataques intensos de depressão, ansiedade e irritabilidade — variando de poucas horas a alguns dias; impulsividade; participar em comportamento autodestrutivo como o abuso de drogas ou distúrbios alimentares como meio para manipular os outros; e vivenciar um padrão predominante de relações interpessoais que são instáveis e intensas em função de ter baixa autoestima e fraca identidade própria; e constantemente idealizar e desvalorizar a outra pessoa no relacionamento.
3. Transtorno de personalidade histriônica: este tipo de transtorno de personalidade é encontrado com mais frequência em mulheres do que em homens, e afeta de 2% a 3% da população adulta nos Estados Unidos. Os sintomas de transtorno de personalidade histriônica incluem: necessidade constante de ser o centro das atenções; exibir comportamento inadequado que é sexual ou provocante por natureza; manifestar emoções superficiais que mudam com frequência; ser facilmente influenciado por outras pessoas; pensar nos relacionamentos como muito mais íntimos do que de fato são; e falar de forma em que falta qualquer detalhe real e é excessivamente dramático ou teatral.
4. Transtorno de personalidade narcisista: este tipo de transtorno de personalidade é encontrado em menos de 1% da população adulta nos Estados Unidos. Os sintomas do transtorno de personalidade narcisista incluem: ter uma ideia grandiosa da própria importância; estar preocupado com fantasias de poder e sucesso; manter uma crença de que o narcisista é único e que só deve se associar — e só pode ser compreendido — com aquelas pessoas que sejam do mesmo status; sentir-se no direito e merecedor de tratamento especial; ter inveja de outras pessoas, acreditando que têm inveja delas; tirar vantagem dos outros para ganho pessoal; ser apático em relação aos outros e desejar com frequência elogios, afirmação e atenção.
Agrupamento C
Os transtornos de personalidade nesse agrupamento são caracterizados por sentimentos e comportamentos baseados no medo e na ansiedade.
1. Transtorno de personalidade esquiva: este tipo de transtorno de personalidade afeta cerca de 1% da população adulta nos Estados Unidos, e aqueles que sofrem deste transtorno correm o risco de também desenvolver transtornos de ansiedade como a fobia social e a agorafobia. Os sintomas do transtorno de personalidade esquiva incluem: sentir-se inadequado; ser extremamente tímido; ser muito sensível quando se trata de qualquer tipo de rejeição ou crítica; evitar interações sociais e interpessoais (como no trabalho ou na escola); ter baixa autoestima; e desejar estar próximo de outras pessoas, mas ter problemas para criar relacionamentos com alguém que não faça parte da família imediata do indivíduo.
2. Transtorno de personalidade dependente: este tipo de transtorno de personalidade pode ser encontrado em aproximadamente 2,5% da população adulta nos Estados Unidos. Aqueles que sofrem dele geralmente também sofrem de transtornos de personalidade limítrofe, esquiva ou histriônica. Os sintomas do transtorno de personalidade dependente incluem: ser sensível a qualquer tipo de rejeição ou crítica; ter baixa autoconfiança e autoestima; preocupar-se com abandono; assumir um papel passivo em um relacionamento; passar por apuros para tomar decisões por si mesmo; e evitar qualquer tipo de responsabilidade.
3. Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva: este tipo de transtorno de personalidade afeta aproximadamente 1% da população adulta nos Estados Unidos e ocorre em homens duas vezes mais do que em mulheres. Os indivíduos que sofrem deste transtorno também correm o risco de desenvolver doenças médicas causadas por distúrbios de estresse e ansiedade. Os sintomas do transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva incluem: sentir-se impotente em qualquer situação que o indivíduo não consegue controlar completamente; ter preocupação com ordem, controle, regras, listas e perfeição; ser incapaz de jogar fora itens, mesmo que não tenham nenhum valor sentimental para a pessoa; buscar a perfeição ao ponto de realmente impedir um indivíduo de completar seu objetivo; dedicar-se tanto ao trabalho que todos os outros itens são excluídos; e ser inflexível e resistente quando se trata de mudança. As pessoas que sofrem deste transtorno são geralmente vistas como teimosas e rígidas, e muitas vezes são avarentas, considerando o dinheiro apenas algo a ser guardado para um desastre eminente e não algo para ser gasto para si mesmo ou outrem. Deve-se observar que, embora o transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva (TPOC) compartilhe muitas semelhanças com o transtorno de ansiedade obsessivo-compulsiva (TOC), os dois são considerados transtornos completamente distintos.
Como a personalidade é essencial na vida de uma pessoa, quando um indivíduo se comporta e interage durante a vida cotidiana de uma forma que se desvia das normas estabelecidas pela sua cultura, isso pode ter um efeito verdadeiramente dramático sobre ele. Ao compreender os transtornos de personalidade e dividi-los em categorias distintas, os psicólogos conseguem entender mais e ajudar a tratar pessoas que sofrem dessas doenças.